terça-feira, 16 de junho de 2009

Resenha - Se Eu Fosse Você


Dirigido por Daniel Filho, Se Eu Fosse Você foi um grande sucesso de público em 2006, conquistando mais de 3 milhões de espectadores. Tony Ramos e Glória Pires vivem um casal de classe média alta e apaixonado, porém, o casamento está na pior fase. Num momento culminante de suas brigas, o casal decide contratar advogados para a separação de bens. Logo, entram no mesmo elevador e imediatamente trocam de corpos. A habituação da vida do outro começa a partir daí. Eles devem assumir as tarefas um do outro: enquanto Helena (no corpo de Cláudio) assume a criação de uma campanha publicitária que pode render um novo e importante cliente para a agência do marido, este (no corpo da esposa) passa a dirigir um coral de garotas às vésperas de uma apresentação.
O diretor do longa, Daniel Filho, não mostrou-se tão inspirado assim. Como por exemplo, uma forma de explorar a característica física mais conhecida de seu protagonista: o corpo absurdamente cabeludo de Tony Ramos – e, numa comédia sobre troca de corpos, seria de se supor que alguma boa piada fosse feita neste sentido, não? Que tal se sua esposa, incomodada com tantos pelos, aproveitasse a oportunidade para raspar tudo? Daniel Filho continua a dar indícios de que, apesar de ser um ator excepcional, não é um cineasta dos mais brilhantes: acostumado com a televisão, comete um erro tão comum entre diretores especializados nesta mídia e inunda o filme de closes do início ao fim (aliás, há um plano da boca de Glória Pires, durante uma sessão com o psicólogo, que me pareceu particularmente despropositado e nada elegante, soando apenas como um improviso descuidado do diretor). Porém, a maior prova da falta de discernimento de Filho reside na pavorosa cena em que Tony Ramos e Patrícia Pillar se entregam a um número musical que, além de fugir completamente do tom e da proposta do filme, não possui charme ou graça que o justifiquem, sendo apenas embaraçoso, chegando a ponto de encerrar com o velho clichê dos personagens despencando, divertidos e entre risadas, em um sofá.
Mas há algo que salva Se Eu Fosse Você do desastre completo: enquanto Ramos, na primeira parte do filme, cria uma figura marcada, agitada e bonachona, Pires investe em um tipo discreto, pouco revelador – o que certamente facilitaria o trabalho da atriz na segunda parte, já que teria mais “muletas” para encarnar a mudança de corpo, e dificultaria para Tony Ramos, pelo motivo inverso. Seja como for, isto acaba não fazendo diferença: quando Cláudio passa a ser vivido por Glória Pires, torna-se imediatamente menos elétrico; em contrapartida, Helena se torna bem mais afetada e “perua” ao cair na pele de Ramos. Porém, os atores são suficientemente carismáticos para compensar as caracterizações inconstantes. (Ao contrário de Thiago Lacerda, que surge apagado e artificial.)
Mastigando uma liçãozinha de moral ingênua para o espectador em seu desfecho, que chega a trazer os protagonistas explicando o que aprenderam ao longo de suas experiências, Se Eu Fosse Você já seria fraco o bastante para decepcionar como especial para a televisão. Como Cinema, então, acaba levando o espectador a desejar trocar de corpo com alguém que, preferencialmente, esteja bem longe da sala de projeção.


Por Alessandra Andrade

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